18 novembro 2012

Discurso entre o Homem e a sua Consciência

 

(H) Miro o meu reflexo. Desconheço o que vejo,

Abnegando a possibilidade deste grotesco bosquejo.

Coloco a máscara e, por fim sereno e vero,

E por fim no controlo deste ensejo,

Finjo a mentira que quero.

 

( C ) Finges mas a dor permanece.

Existe a vontade de nos superarmos,

De vivermos e lutarmos num futuro

Onde o passado menos duro nos enaltece…

 

(H) Mas o passado… a que distância…

E padecer desta dor pela consciência,

Do saber que já vai longe a infância,

E que entretanto se perdeu a inocência

Conspurcada pelos anos de existência…

 

( C ) Existes porque te querem mostrar ao mundo,

Não só pela diferença mas pela virtude,

O teu futuro demonstra a polivalência,

Do que és dentro de ti, puro…

 

(H) Mas de que me valho eu puro,

Se a lei vigente é a da aparência?

Haverá rumo mais proveitoso e seguro

Que o da devassidão e indecência?

Pois aquilo que há tanto procuro

Só alcancei num estado de dormência…

 

( C )É a dormir que a criação é só sonho.

O interesse é a vida terrena.

Tudo o que sonhas não é impossível,

Apenas uma tendência.

Vive, mostra inteligência

Porque o resto é problemas de convivência.

Livra isso da consciência…

 

João Carloto e Flávio Pereira