(H) Miro o meu reflexo. Desconheço o que vejo,
Abnegando a possibilidade deste grotesco bosquejo.
Coloco a máscara e, por fim sereno e vero,
E por fim no controlo deste ensejo,
Finjo a mentira que quero.
( C ) Finges mas a dor permanece.
Existe a vontade de nos superarmos,
De vivermos e lutarmos num futuro
Onde o passado menos duro nos enaltece…
(H) Mas o passado… a que distância…
E padecer desta dor pela consciência,
Do saber que já vai longe a infância,
E que entretanto se perdeu a inocência
Conspurcada pelos anos de existência…
( C ) Existes porque te querem mostrar ao mundo,
Não só pela diferença mas pela virtude,
O teu futuro demonstra a polivalência,
Do que és dentro de ti, puro…
(H) Mas de que me valho eu puro,
Se a lei vigente é a da aparência?
Haverá rumo mais proveitoso e seguro
Que o da devassidão e indecência?
Pois aquilo que há tanto procuro
Só alcancei num estado de dormência…
( C )É a dormir que a criação é só sonho.
O interesse é a vida terrena.
Tudo o que sonhas não é impossível,
Apenas uma tendência.
Vive, mostra inteligência
Porque o resto é problemas de convivência.
Livra isso da consciência…
João Carloto e Flávio Pereira